Capela de São José na antiga Fazenda Escadinha
A
antiga Fazenda Escadinha que pertenceu à família importante deste
município, e que lá também nasceu o nosso ícone do
forró Francisco
de Assis Nogueira - o ASSISÃO, neste ano de 2022 completou 160 anos
de existência no mais absoluto esquecimento. Quando digo absoluto
esquecimento, é porque ela já foi uma das mais ricas fazendas de
Serra Talhada. Esses
160 anos refere-se à data do término da construção da capela
erguida por Dona Teodora Nogueira, primeira esposa do Dr. Tiburtino
Nogueira. Ele, formado na conceituada Faculdade de Direito do Recife,
foi uma figura notável naqueles tempos, no meio jurídico de nosso
Estado, ocupando inclusive a Promotoria de Justiça, e depois Juiz de
direito, na antiga Villa Bela, hoje Serra Talhada.
O
Dr. Tiburtino Barbosa Nogueira nasceu no dia 18 de junho de 1839 e
faleceu no dia 6 de junho de 1900 e está sepultado na capela de São
José da antiga Fazenda Escadinha. Lá também se encontram os restos
mortais de vários membros da família Nogueira. A chamada casa
grande que compunha o cenário de esplendor naquela terra a margem direita do Rio Pajeú, só restam hoje em dia fragmentos dos antigos
tijolos dos compartimentos, pois a construção centenária era
erguida em pau-a-pique e suas divisões, isto é, os quartos e outros
cômodos em tijolos. A casa era realmente muito grande.
Tinha,
segundo informações 18 quartos, várias salas, alpendre com
calçada, cozinha e outras dependências. Há notícias da existência
de uma senzala, pois os donos possuíam mais de uma centena de
escravos. A
riqueza era enorme. As terras eram o que a vista alcançava. Havia
muita criação de bovinos, caprinos, ovinos e muares. Tudo isso foi
se acabando a partir dos anos. O grande impacto se deu a partir da
libertação dos escravos no ano de 1888. Os escravos desembrearam
nas caatingas e os donos foram vendendo tudo, e é como diz o ditado,
“de onde se tira e não bota nada, tudo se acaba” e foi isso que
aconteceu com a famosa fazenda Escadinha.
Neste
local existiu por anos a antiga casa grande da Fazenda
Escadinha atualmente só resta a Capela
A
família da parte do meu pai viveu durante bastante tempo na fazenda. A minha
tia Avó foi à zeladora da capela de São José da Escadinha por aproximadamente 50 anos.
Não
existia cemitério na localidade. No entorno da capela foram sepultadas inúmeras crianças. Entre o final dos anos 1960 e início
dos anos 1970, foi construído o cemitério e passou-se a sepultar
pessoas adultas, lá estão enterrados vários parentes meus.
O
nome da antiga Fazenda Escadinha vem dos vários amontoados de pedras
que existem na localidade as quais os mais velhos chamavam de
escadinha. Atualmente
restam poucos serrotes porque os demais foram destruídos para
fazer calçamentos e britas nas construções de casas e etc.
Avistam-se
os três amontoados de pedras que originou o nome dado à fazenda.
Existe uma escadinha confeccionada em madeira sobre o altar, mas ela
nada tem a ver com o verdadeiro nome da localidade. Aliás, no altar
existem várias outras imagens ainda originais. No momento precisando
de restauração. Também nas paredes têm quadros alguns originais e
outros que foram doados. A minha Avó materna dou um quadro de Nossa
Senhora de Fátima, adquirido em sua primeira viagem ao Juazeiro-CE,
na década 1960. Faço um destaque a um quadro de São Pedro
Apostolo, doado pela minha Tia Avó paterna, porque o original havia
sido destruído. Esse quadro está logo na sacristia.
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Na antiga Fazenda Escadinha se tem uma das melhores vistas da nossa Serra Talhada. Observa-se o corte perfeito feito ilusão de ótica e da natureza. |
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O
velho sino da capela de São José da Escadinha.
Existe
uma lenda que diz o seguinte: “Moça
que bate o sino da Capela da Escadinha não casa”.
Eu sou prova que isso não existe. No entanto, a de se considerar e
botar “as barbas de molho” como se diz. Lá, até certo tempo,
existiam muitas moças que não se casaram. Sei que algumas só
viviam badalando o velho sino da capela de São José da Escadinha. A
minha Tia Avó Chica Mota, a irmã do meu pai que também se chamava
Francisca foram zeladoras daquele pequeno templo e não se casaram.
Sei de outras moças que tocaram o sino e se casaram. Então para
tudo cabe uma explicação e muitas das vezes sem condizentes com as
crenças e lendas, pois para toda regra, há exceções.
Fazia
tempo, que não visitava o meu local de nascimento. Na ocasião desta
foto, estava lá em visita o então Secretário Municipal de
Desenvolvimento Social – Josenildo André Barbosa, que também
nasceu lá, acompanhado da Elis Lopes Garcia que trabalhou como
Diretora de Igualdade Racial na Prefeitura Municipal de Serra Talhada
em sua gestão como secretário, e fez um trabalho maravilhoso de
reconhecimento da nossa negritude. Presto minhas mais sinceras e
reconhecidas homenagens a Elis que nos ligou ao nosso passado
ancestral.
Modesto
Lopes de Barros e Elis Lopes Garcia
Na foto acima Eu e Elis presentes na Conferência de Cultura do Estado de Pernambuco, durante o período que ela passou em Serra Talhada fez amizades com muita gente da nossa terra. É imperioso falar da questão escravatura nessa região do Pajeú que ficou escondida. E o município de Serra Talhada continuou por vários anos não fazendo nada no sentido de reparar os danos perversos que a escravidão causou a população negra. O fato era que pouco se falava dos negros e negras em nosso município. Corria “a boca miúda” que os negros e negras faziam parte das famílias. E eu digo que isso era da cozinha para fora. Dado
ao trabalho iniciado na gestão do Prefeito Luciano Duque hoje
sabemos que o município tem uma população Quilombola enorme, pois
já são 14 Comunidades reconhecidas e outras tantas ainda não
reconhecidas.
Ainda
alcancei o altar da capela nas cores branca e azul. No entanto, ele é
confeccionado em madeira de lei – cedro. O piso era em tijolo
queimado e grande. Havia as marcas das sepulturas das pessoas que
foram enterradas ali.
A
imagem secular e histórica de São José Padroeiro da Fazenda
Escadinha.
Antigamente
as pessoas faziam promessas e quando alcançavam as graças levavam
flores, fitas e velas para a capela. Ainda hoje essa tradição é
vivenciada pelos fiéis devotos. O São José da Escadinha é um
santo milagroso desde sempre, pois a construção da capela foi um
milagre alcançado pela Dona Teodora que a mandou construir, por
conta de uma graça alcançada.
Outra
tradição que acontecia era o roubo do menino Jesus que está no
braço da imagem de São José. Misteriosamente o menino sumia e
ninguém sabia quem roubava. Passados alguns meses saia um boato na
ribeira falando que a imagem do menino se encontrava na casa de
determinada pessoa e nada se comprovava. Eram os alarmes falsos. E
nesta pisada os meses se passavam até que finalmente se ficava
sabendo da real pessoa que roubou o menino e os motivos. Acho que
atualmente esse roubo da imagem do menino Jesus não mais acontece.
A
antiga Fazenda Escadinha era cheia de vida. O povo da minha família
por parte do meu pai viveu por vários anos naquela localidade.
Durante o mês de março acontecia às celebrações e novenário do
Padroeiro. Nos anos secos era comum haver uma procissão com a imagem
de São José no último dia da sua festa e o Padre Jesus, que
paroquiou Serra Talhada por mais de 50 anos, na sua homilia pedia a
interseção de São José para mandar chuva. Muitas vezes presenciei
isso. E quando ele terminava seus trabalhos pastorais, como:
batizados, confissões, casamentos e missa o tempo mudava e vinha
aquela chuva e as plantações seguravam, e o agricultor tirava o
milho e o feijão para seu sustento durante o ano. Na verdade, os
tempos mudaram e a fé do pequeno agricultor parece que diminuiu.
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A
emoção ao rever as passagens que marcaram minha infância.
Eu
nasci e vivi na Escadinha até os meus cinco anos de vida.
Na
antiga Fazenda Escadinha vivi até os cinco anos de idade. O meu pai
fez uma casa na outra margem do Rio Pajeú. A nossa casa ficava perto
da serra do Brabo. Lá, ficamos morando de 1952 a 1954. No ano
seguinte fomos morar na Fazenda Barrocas do senhor Zé Cunha.
Voltando no outro ano para nossa antiga casa, e de lá saímos em
1958. Ano de muita seca e fome. E não voltamos mais para a casa que
papai havia construído, e falava que não mais sairia de lá.
Ninguém sabe os desígnios de Deus. Tomamos outros rumos e nossa
família (pai, mãe, irmãos e eu) nunca mais voltamos naquele lugar
chamado Ribeira da Carnaubinha.
E
quanto à antiga Fazenda Escadinha, meu torrão natal, cuja capela
completa 160 anos de existência para mim resta saudades. Ainda me
lembro da festa que foi realizada nas comemorações de 100 anos da
capela. Lá estavam o Sr. Juca Nogueira e a sua esposa Dona Cristina,
Dona Maria Nogueira, Sr. Tota Alves. Foi a primeira vez que eu ouvi a
palavra – Espanha, pronunciada por Ana Lúcia, filha de Dona
Nogueira. Ela falava que ainda faria uma visita à Espanha, terra do
Padre Jesus R. Garcia. Tanta gente importante da família Nogueira. A
minha Tia Avó Madrinha Chica Mota da Escadinha fez os preparativos
da festa, juntamente, com a Tia Chiquinha com esmero. Lembro-me que a
preocupação maior delas era com a água. E eu me lembro de que
havia mais de 15 potes cheios de água para o povo. Concluindo,
a Escadinha é o meu lugar. A terra que sempre vai existir nos meus
sonhos. Quero nestas minhas lembras externar meus mais sinceros
agradecimentos por ter nascido naquela tão abençoada localidade.
Que
as futuras gerações não abandonem a capela de São José da
Escadinha que guarda nossa fé em Deus, uma das capelas mais antigas
nas fazendas de nosso município – construída no ano de 1862.
Texto e fotos de Modesto de Barros Ator, Produtor Cultural e dirigente do Centro Dramático de Serra Talhada, Ex - Conselheiro Tutelar, Bancário Aposentado, Coordenador do CEU das Artes, no bairro Caxixola e diretor do Coral Anita Vilarin |
Eu quero agradecer ao meu colega e parceiro Carlos Silva, como eu o chamei, o carinho dele em publicar em seu blog essa matéria dos 160 anos da minha querida terra que nasci. Obrigado meu nobre.
ResponderExcluirestamos juntos nessa empreitada. Eu que agradeço!
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