Filha de Domingos Rodrigues de Carvalho e de Beatriz Simões da Silva; éramos seis irmãos, porém três morreram antes de um ano de idade, ficamos Maria do Socorro, eu e Jurandi (in memorian). Sou o filho de número quatro”.
Marluce - que quer dizer: Mar e Luz, e assim como a vastidão do mar e o gigantesco alcance da luz, Marluce é imensa no ser e nos feitos. Foi aluna de escola pública e sempre procurava se destacar, principalmente em mensagens e redações sobre qualquer assunto.
Desde a mais tenra idade sonhava em cursar Advocacia, mas as condições financeiras eram poucas, o que a levou a mudar de rumo logo no início da vida estudantil. Seu antigo primário foi no Grupo Escolar Solidônio Leite, até a 4ª série… “a professora que me incentivou ao magistério foi dona Dorinha Policarpo”. Menciona.
O Exame de Admissão, o vestibular da época, ela fez no final do ano de 1954, porém ele, só iniciaria aos estudos seguintes (a Escola Normal para meninas e o Cônego Torres para os meninos), se fosse aprovado, ela passou de pronto e, estudou na famosa Escola Normal Imaculada Conceição de 1955 a 1958.
A sua formação de Professora do 1º Ciclo foi concluída na cidade de Belo Jardim – PE no Colégio Nossa Senhora do Carmo, onde veio a se formar em 1959, aos 16 anos e 6 meses, não podendo assinar o diploma (isso só era possível quando completasse 18 anos).
Já professora polivalente ensinado na zona rural, mas com sede de conhecimento e assim, crescer profissionalmente, volta para sala de aula na Escola Normal Cônego Tôrres em 1964 e 1965 para concluir o 2º Ciclo como Professora Primária.
Parar de estudar nunca esteve em seus planos, por isso em 1976 prestou Vestibular em Vitória de Santo Antão-PE para cursar a Licenciatura Curta em Língua Portuguesa. “Depois fiz a Licenciatura Plena em Arcoverde em 1982, já em 1984 cursei a Pós-Graduação em Língua Portuguesa ‘lato senso’ na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Belo Horizonte”.
Na sua formação acadêmica ela têm participação em capacitações, seminários e fóruns com temática docente. Ao perguntar sobre outros cursos, ela responde: “tenho o de Curso de Teologia para Leigos concluído em 2009; Curso de Ministra da Palavra em 2015 e o Curso de Formação Fé e Política no ano de 2020, realizados pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário da Diocese de Afogados da Ingazeira”. Nos conta Marluce sobre sua formação.
Surgiu então, o “Plano Piloto de Erradicação do Analfabetismo” relembra nossa entrevistada que voltou a dar aulas na zona rural: “Fui lecionar em São João dos Gaias, nas casas do Sr. José Higino e do Sr. Luiz Gaia. Aí demorei sete anos. Bonzinho Magalhães e Vilmar Gaia foram (alguns) alunos dessa época”. Pontua, e acrescenta: “como professora polivalente, reconheço que não só ensinei, como também, aprendi ‘coisas que não me ensinaram nas Faculdades por onde passei’, o amor à terra, a luta obstinada pela sobrevivência, a fé inabalável em Deus e o reconhecimento de cada individuo como um irmão”. Enfatiza a professora.
Passados sete anos, foi transferida para o Grupo Escolar Antônio Timóteo e depois para a Escola Cornélio Soares, que funcionava onde hoje é o Banco do Nordeste – BNB. Giovana Pereira e Hermógenes Simões foram seus alunos nesse período.
Em seguida, leciona no Ginásio Industrial Cornélio Soares (prédio atual), depois de um tempo foi transferida para o Centro de Educação Rural Methódio de Godoy Lima: “Fui uma das professoras-fundadoras dessa escola na qual me aposentei, encerrando meus vinte e oito anos de regência em salas multisseriadas e em salas normais como professora estadual. Estudaram comigo nesse tempo Magno Melo e Socorro Padilha”. Registra.
Via
de regra, casou-se em 1967 aos 24 anos com Genilton de Medeiros Souza
(in memorian) com quem teve dois filhos: Hermógenes e
Honiógenes
de 56 e 54 anos respectivamente.
Seu cônjuge faleceu precocemente em 19 de maio de 1980 com apenas 38 anos. Passados oito anos do falecimento do seu esposo ela adotou a menina Chiara Adriana. “A família cresceu e hoje tenho sete netos biológicos: Pricila, Hémerson, Luiz, Stefany, José Heittor, Gustavo Enrico e Ian Gabriel, e mais três de coração que a vida me deu: Arthur, Breno e Beatriz. Puxando a quarta geração chegaram os bisnetos: Rhamom, Rhana, Rhuana e Rhuan”. Conta com orgulho a matriarca.
Quando e como aconteceu sua chegada na Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada? “Recebi um convite em 1983 da então diretora Srª. Solange Nunes de Souza Oliveira, para fazer parte da Congregação da FAFOPST, onde cheguei ao limite como docente, trabalhando com quase todas as cadeiras do Curso de Letras”.Seus serviços em prol da educação serra-talhadense são notáveis, tanto é que a mesma diretora, acreditando na responsabilidade e no compromisso que a professora Marluce Simões demonstra com a Educação, fez-lhe outro convite: acumular as cadeiras de Língua Latina, Português e Literatura Latina, na Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central de Salgueiro de 1986 a 1988.
“Em um período de três anos ampliei meus conhecimentos acadêmicos, e mais, conheci gente nova, como Marilu Leal e outras, convivi com diferentes realidades, armazenei mais experiências de vida”. Comenta ela sobre mais essa empreitada educacional.
Fazendo jus ao significado de seu nome, ela acumula funções profissionais e na vida cotidiana: mulher estudada, dona de casa, esposa, mãe, avó, costureira, confeiteira, cuidou com zelo da sua mãe, que viveu por 105 anos, bisavó, cristã leiga com atividades na Igreja em diversos serviços e pastorais.
“Hoje eles sentem o resultado dessas exigências. São profissionais em diversas áreas na sociedade, colhendo os frutos das sementes que plantaram e que cuidaram com responsabilidade. Todos devem crescer pelos próprios méritos, sem trampolins políticos que são hoje da situação e brevemente da oposição”. Justifica seu posicionamento profissional.
Continuando a descrever seu currículo de professora, ela nos conta: “fui uma das fundadoras do Colégio de Aplicação da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada - CAFAFOPST, por indicação do saudoso diretor e professor o Sr. Clóvis Nogueira Alves, até a gestão da Srta. Veralúcia Pereira de Sá. São alunos dessa época o Dr. Aílo Sérgio e Andréa, filha do professor Geraldo”.
Ainda na FAFOPST/AESET, ela foi eleita pela Congregação (Colegiado de Professores) para ocupar o cargo de Chefe do Departamento do Curso de Letras por 2 anos e reeleita por mais 2.
A sua aposentadoria pela Secretaria Estadual de Educação veio em 1988, continuando na ativa na FAFOPST/AESET até 2003. “Também ensinei na Escola Pequeno Príncipe de propriedade do casal Bonzinho Magalhães e Dalma Régia, como exemplo de alunos tenho Rafael Mourato e Paulo André Magalhães.
Trabalhando apenas à noite na FAFOPST, a inquieta e prestativa professora monta na sua residência a Escolinha de Reforço, que preparou durante 13 anos, adolescentes para cursos de vestibular, escola técnica e concursos públicos comprovando o exposto ela cita os alunos Felipe Barros (PRECON) e Marcos de Vanduí Melo.
“Ao todo, em escolas rurais e urbanas, particulares, públicas e Faculdades colaborei com a Educação num período de 45 anos ininterruptos manhã, tarde e noite. Encerrei a carreira do Magistério com a mesma responsabilidade do início, conscientizando o aprendiz de que o diploma deve ser o reflexo do conhecimento e da ética profissional, caso contrário é uma arma na mão daquele que não sabe lidar com ela”. Pontua a experiente Mestra.
“Não tenho uma história interessante, nem feitos faraônicos, tenho histórias de superação. Passaram por mim, alunos de todas as classes sociais nas faculdades e outros cursos, porém os de menos posses, eram sempre os mais esforçados: formaram-se, foram aprovados em concursos e trabalham como profissionais liberais, autônomos e em repartições públicas, por exemplo, o aluno Tadeu, da cidade de Flores que chegou a um patamar expressivo publicando livros, inclusive gramáticas”. Referencia a professora Marluce Simões.
“Já no meu caso, dos diplomas que conquistei ao longo dos anos, os que mais me marcaram foram o de ser mãe, avó e bisavó”. Orgulha-se.
“Nestes 45 anos de serviço à causa educacional, apesar das ‘n’ mudanças, acredito, piamente, que só através da EDUCAÇÃO é que o homem descobrirá o valor de Deus; conhecerá a si mesmo; reconhecerá a importância do outro; protegerá a Natureza; conciliará tecnologia e ecossistema; terá acesso aos seus direitos; cumprirá seus deveres; respeitará às leis; crerá na força da terra; desarmará as Nações; valorizará o seu Pais, enfim, usufruirá dos HUMANOS DIREITOS”. Sentencia.
Inquieta, repleta de sonhos e desejando aproveitar a melhor idade, bem antes de completar seus 60 anos, em 1998 funda, com a Srª Josefa Farias Leão, conhecida por Zefinha de Fortunato (in memorian), o Grupo Folhas Outonais para bem viver a tão almejada Terceira Idade.
Atualmente o grupo se chama Associação Folhas Outonais, com identidade jurídica, sede própria e conta com 37 associados. Realiza atividades físicas, danças, coral, banda marcial, artesanato, dramatização, palestras (formativa e informativa).
O objetivo maior é aceitar a velhice como ciclo natural da vida, seguindo a máxima do poeta Dedé Monteiro: “a idade boa é a que faz bem ao dono dela”.
Maria Marluce Simões de Medeiros é membro fundadora da Academia Serra-talhadense de Letras, onde honrosamente ocupa a cadeira de número 16, tendo como patrono o poeta carnaibense Zé Dantas.
Possui textos de sua autoria, publicados em três coletâneas da ASL: “Selecta de Poesias” em 2007; “Rastros de um Decênio” em 2009 e na Antologia “O Sertão em Prosa e Verso” em 2019; no “Villa Bella Jornal” e no extinto “Jornal Juntos como Irmãos”, da Paróquia do Rosário no qual foi colaboradora.
“Faço revisão de livros de autores locais e circunvizinhos, prefaceio obras literárias e ainda sonho em reunir em uma coletânea minhas mensagens, contos e poemas, frutos de momentos de reflexão e ‘registros’ de datas especiais”. Menciona.
Na juventude, ela iniciou aulas de Acordeon com o professor Napoleão da cidade de Floresta, sonho interrompido por problemas conjugais, mas que foi acalentado, e agora ele volta com toda força para superar as mazelas deixadas pela chikungunya e pela Covid-19, com o professor Arnor de Lima, o que a faz tocar umas notas na sua antiga sanfona de 80 baixos, presente de seu saudoso pai.
Que mensagem deixa para as novas gerações de professores e literatos? “Os pais educam, os professores abrem caminhos para os alunos, conscientizando-os de que cada um escreve sua própria história. São protagonistas de seus sonhos e cabem-lhes traçar metas, e direcionar sua sabedoria no Espírito Santo, garra para transpor obstáculos e coragem de águia para alçar voos.
Valorizem-se pelos profissionais que são; acreditem no potencial que Deus lhes presenteou. Nos locais de trabalho, lembrem-se de que lidam com “gente” e não com “coisas” Elogiem seus colaboradores, corrija-os com misericórdia. E se errar, que não é difícil, humildemente, reconheça o erro e procure corrigi-lo com transparência sem usar máscaras nem subterfúgios. Assim, vocês, educadores, se sentirão “gente que precisam de gente para serem gente”.
Para os literatos – os únicos indivíduos que se comunicam com palavras (sons articulados), somos nós, seres humanos. Além desse privilégio, contamos com outro: falamos a língua mais rica, a Língua Portuguesa, pois a “Última Flor do Lácio” se presta para tudo: é leve, é harmoniosa, é versátil. De posse desses dois pré-requisitos, o literato conta com a veia poética. Daí as sílabas, as palavras, as frases, os parágrafos, o texto no contexto, “o artífice da palavra” exterioriza seus sentimentos e os materializa em sonetos, glosas, versos livres e tantos estilos para deleite de tantos amantes da palavra escrita.
Pouco importa que a produção seja de ontem, ou de hoje, advinda de iletrados ou de clássicos, de crianças ou de idosos, da roça ou de centros de 1º mundo, todos têm o seu valor, a sua utilidade e o seu público mediante a sensibilidade de cada leitor”. Finaliza.
Por Carlos Sett
Fotos digitalizadas por Gilberto Gomes