Bodas de Prata com Peso de Ouro: Carlos Silva 25 Anos de Atividades Artísticas

Peça Teatral Vida de Escada - agosto de 1995

Da energia que perpassa no relacionamento entre o artista e o seu público, Carlos Silva celebra 25 anos de profissão, seja no teatro (sua paixão primeira), seja na poesia, outro forte dom do artista, ganham formas inspiradas no imaginário deste sertanejo bravo que, além de ator, é dramaturgo, escreve poesia e prosa, e é membro da academia serra-talhadense de Letras, ocupando a cadeira de Nº 27, cujo patrono é o romancista e teatrólogo recifense Lucilo Varejão, formou-se Técnico em Contabilidade em 1999, é integrante da Fundação Cultural Cabras de Lampião-FCCL, e, em 2018, concluiu o ensino superior, escolhendo como graduação a Sociologia.

Luiz Carlos da Silva Aquino, ou apenas Carlos Silva (ora Carlos Sett) nasceu na fazenda Cacimbinha de Caiçarinha da Penha, Distrito Rural do Município de Serra Talhada. Mas seu destino estava traçado em seguir um caminho diferente de seus ancestrais, todos agricultores e analfabetos; apenas sua mãe assina o nome (como se fala por aqui) e, justamente ela (dona Zélia), vislumbra para seus cinco filhos um destino diferente. Resolve se mudar para a cidade, onde eles poderiam estudar e seguir uma vida fora da roça e, assim, a família veio morar na Vila Cohab.

O pai, homem rude e do campo, não se acostumou com a vida na cidade e voltou para o sítio, vindo apenas nos finais de semana ficar com a família. Mas Dona Zélia se manteve firme aqui e, finalmente, aquele molho de crianças puderam ter contato com a televisão na casa dos vizinhos, pois, até então, não tinham recursos para adquirir uma TV. Estamos falando do ano de 1991, quando Carlos estava com 12 anos de idade e nunca havia assistido Televisão.

Esse contato o fez perceber um mundo mágico e fantasioso. Ele ficou fascinado, e aos poucos, foi descobrindo que aquelas pessoas eram reais, era gente feito ele e que um dia poderia também aparecer naquela telinha. Afirmou, em sua inocência, que era aquilo que queria fazer quando se tornasse maior. “Nesta época, passava a novela ‘VAMP’, cheia de efeitos especiais, dentes que cresciam, gente que virava morcego e que se teletransportava. Eu ficava encantado com aquilo; na Cacimbinha, não havia energia elétrica, e em Caiçarinha, tinha uma televisão na praça que era ligada das 18 às 22h, mas a gente não ia lá a noite, afinal, eram 06 quilômetros e já fazia este caminho durante o dia para ir à escola, sempre a pé”. Relembra o artista.

Na verdade, sua mãe não gostava que ficassem na casa dos vizinhos assistindo, então eles tinham que voltar para casa antes dela, senão a surra era certa, e ele apanhou algumas vezes, assim como seus irmãos, pela desobediência.

Primeira Oficina de Teatro - maio de 1995

A Descoberta do Teatro e o início na vida artística: Em 1995, cursando a 7ª série na Escola Methódio Godoy, a diretora passa na sala avisando sobre uma Oficina de Teatro a ser realizada na escola, com Giovanni Sá e Modesto de Barros. É o primeiro a se inscrever, e no mês de maio, participa dos 03 dias da oficina, vislumbrado e ficando consigo a certeza da sua paixão pela arte de representar. Em agosto do mesmo ano, protagoniza a primeira peça: "Vida de Escada", texto do Professor Dierson Ribeiro, e Direção da Professora Rosimar Ramos. São as suas primeiras experiências práticas no universo mágico do ser ator.

Daí em diante, Carlos Silva não parou de exercer tal função, saiu em busca de cursos e passou a ler assiduamente literatura dramática e textos acerca da arte teatral, além, claro, de assistir bastante televisão, sempre na expectativa de um dia estar ali, fazendo aquelas cenas. Passou por diversas experiências que fizeram com que o ator ganhasse cada vez mais aprendizado. Em 1996 escreve seu primeiro poema, “O Amor”, e atua nas peças "E a Escola como vai?"; “Um só dia não basta”; “O Nascimento de Jesus”; dentre outras.

Entre 1997 e 1999, como membro da Pastoral da Juventude (movimento da Igreja Católica do qual fez por mais de 10 anos) atua como locutor no Programa: “Alô Juventude”! Todo domingo na Rádio Cultura FM. Suas apresentações, até então, eram nas escolas e nas paróquias, mas lhe trazia uma satisfação grandiosa. E em 1998, acontece uma nova oficina de teatro, e surge como resultado a peça: “Drogas, uma partida para o Inferno!”, com grande elenco e que ficaria por muitos anos no repertório do GTMG – Grupo de Teatro Methódio Godoy, que nascera após a primeira apresentação, pois a turma queria se manter firme fazendo teatro.

Neste mesmo ano (1998), o menino franzino que queria ser artista, assiste, na TV, um anúncio sobre um Curso de Teatro e Vídeo em Recife, e pela primeira vez, através de carona, parte rumo a capital, onde fez sua inscrição e começou uma saga de idas e vindas até concluir o curso da Produtora Viver à Cena, no Teatro Clênyo Wanderley (Casa da Cultura do Recife), com 06 meses de duração e a gravação de um clip em seu encerramento.

Peça: Arraiá na Roça da Noca - Junho de 1998 

Ainda em 1998, assume a coordenação do GTMG e passa a dirigir as peças e também a escrevê-las, surgindo em si uma nova modalidade artística, a de dramaturgo. Seu primeiro texto é o esquete “A Porção da Bruxa Encalhada”; em seguida “A Importância do Professor", e no início de 1999, escreve a primeira peça “Sem Trabalho... Porquê?" sobre a temática da Campanha da Fraternidade daquele ano. Dirigiu outros esquetes e peças, escreveu e adaptou textos como: "Branca de Neve e os 5 Anões" e “Contrastes Natalinos”, por exemplo. Todos esses trabalhos, e muitos outros, foram realizados mostrando sua paixão, talento e compromisso com o fazer artístico. Levaram as peças para várias escolas e espaços do município e seu entorno.

Caminhando para o final do ano de 1999, a escola já era pequena para aquele grupo de jovens artistas, e Carlos, entre outros integrantes, iriam deixar a escola, pois iriam se formar. Se reúnem, mudam o nome de GTMG para ETEAST-Equipe Teatral de Serra Talhada, sugestão do próprio Carlos, e estreiam, em novembro, uma nova peça escrita, dirigida e protagonizada por ele. É a partir do segundo milênio que Carlos Silva começa a ter novas experiências dentro da arte. Em 2000, monta o texto “O Médico”, adaptado da obra de Molière – “O Médico à Força”, e em dezembro, lança seu primeiro livro intitulado: “Palavras de Vida”, com poemas e crônicas sobre o cotidiano, amores e religiosidade. Em 2001, estreia a comédia “Confissões”, escrita e dirigida por ele, com Gilberto Gomes, Cristiane Araújo, e ele nos papéis principais. Sucesso absoluto, sendo premiada em festivais na Cidade de Triunfo e Tuparetama. Em Triunfo, a peça agradou tanto, que ele e sua Equipe foram convidados no ano seguinte a compor o elenco da “Paixão de Cristo” local, permanecendo por 04 anos no espetáculo, com personagens de destaque.

1º Livro - Dezembro de 2000

É também no ano de 2002 que ele volta à Recife por Algumas vezes para prestar provas e tirar o seu tão almejado registro de Ator, o famoso DRT, e se filiar ao SATED-PE – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado de Pernambuco, e segue com, no mínimo, uma montagem teatral por ano. Em 2005 faz a junção da ETEAST com o Centro Dramático Pajeú, grupo fundado por Modesto, com CNPJ, e aumenta a efervescência teatral no município, com oficinas para formação de novos atores e atrizes, e produção de peças de sucesso, como “Casa de Mãe Chica”, de sua autoria, e o “Rapto das Cebolinhas”, da consagrada autora Maria Clara Machado.

Ainda em 2005, lança para o grande público seu segundo livro de crônicas e poemas: “Francisco, O Pequeno Francês”. Já em 2006, estreia o seu talento dentro do audiovisual, participando de dois comerciais para a TV a convite de Marquinhos Dantas, com quem divide a cena por 2 anos na TV Grande Rio, Petrolina-PE, e na TV São Francisco de Juazeiro-BA.

Em 2009, volta a atuar em clipes musicais, 11 anos depois de sua tímida participação no clipe da música “Terra de Sangue”, protagoniza, ao lado de Kátia Alves, o clipe da música "Volta pra mim", de Igor Araújo, com roteiro e direção de Camilo Melo, com quem volta a trabalhar em 2011 no clipe "Deus tudo vê", da banda PRC-6. Estes 02 trabalhos estão no YouTube.

Sua estreia na "Via Sacra do Bom Jesus", em Serra Talhada, foi em 2009, a convite do diretor do espetáculo, na época, Ivanildo Duarte. Neste ano, publica seu terceiro livro, um romance de bolso intitulado: “Sua Voz”. Foi neste ano também que estreou outro grande sucesso, o Monólogo "Neurose - A Cidade e Seus Sentidos", texto de José Expedito Marques, com direção de Gilberto Gomes, ficando por quase 08 anos em seu repertório. Outras montagens que estão na memória de seus admiradores foram “Os Malefícios” (2005) e "Jesus & Judas - Traição ou Missão?" (2012).

Espetáculo Elas & Ele! Uma Comédia Musical - 2008

O início de um famoso espetáculo serra-talhadense, "O Massacre de Angico - A Morte de Lampião", da FCCL, tem participação de Carlos Silva no elenco principal, interpretando Pedro de Cândida, o coiteiro que, torturado pela polícia, trai o rei do cangaço, cena que faz com que, até hoje, algumas pessoas o parem na rua para elogiar, assim, recebendo grande reconhecimento do público, que é a recompensa almejada por todo artista. 

Em fevereiro de 2013, é desfeita a junção entre o CDP e a ETEAST, e em dezembro, ele estreia mais uma hilária comédia: "Fulana, Sicrana, Beltrana", texto de Paulo Sacaldadsy, dividindo o palco com Dany Feitosa e Gildo Alves. Ainda durante esse ano, houve a gravação do primeiro filme em que atua, o curta: "Bicho de 7 Letras", dirigido por Marcos Carvalho. "Matuto Inteligente" é um vídeo protagonizado por Carlos Silva que, no YouTube, contabiliza mais de dois milhões de visualizadores.

No ano de celebração de 20 anos de atuação nas artes (2015), protagoniza seu 5º trabalho no cinema, o longa "Sertão de Sonhos", pela produtora paulista, Nova Ideia. No mesmo ano, participa do curta: "Papo Amarelo - O Primeiro Tiro", da FCCL. Em 2016, mesmo passando por problemas relacionados à falta de saúde, que o tiraram de cena por algum tempo, interpretou o Maltrapilho no filme "A Nona Cidade". Esse personagem lhe rendeu 02 prêmios de melhor ator coadjuvante.

Espetáculo: Enfim, Sós! 2011

Para uma pessoa que nunca se cansa, como o definiu Modesto de Barros, ficar 05 anos sem montar espetáculo novo e mais de 03 anos fora de cena, não deve ter sido fácil para este incansável homem de teatro, e ele queria retornar, pois é pela ação cênica ao vivo que ele sente encantamento. Como está acostumado a querer e logo agir, quase recuperado das angústias vividas a cerca das patologias enfrentadas, assim fez, e, ao final de 2018, estreou um novo espetáculo à altura do seu ressurgimento aos palcos: "Voar É Com Os Pássaros", texto do paulista Júlio Carrara, dirigido por Gilberto Gomes, dividindo a cena com ele, este que vos escreve.

Seu quarto livro (100 Poemas Eróticos) está pronto, apenas requer recursos para ser publicado, e assim, na posição conflitante de ser um artista e não ter ainda um palco, da composição de histórias e personagens e daquilo que se tem a dizer pela sua arte, seja no teatro, na literatura ou no cinema, Carlos Silva/Sett vai compondo a sua trajetória dentro do universo artístico de Serra Talhada para o mundo.

Por Hícaro Nogueira,

Ator e Estudante de Letras na UFRPE/UAST